Friday, August 11, 2006


O garoto Esteban chegou da escola, desfez sua pequena pasta e saiu para sua atividade diária. Ele era responsável pela “lavagem”. Todos os dias ele passava na casa dos vizinhos para buscar os escassos restos de comida que as famílias recolhiam com muito cuidado e armazenavam geralmente em uma lata de alumínio nos fundos da casa. Apesar do cheiro ruim de comida decomposta e das larvas que formavam uma crosta em cima daquela pasta podre, o garoto Esteban não se importava com a sua função, ele sabia da sua importância e que o resultado era bom para ele, para seus familiares, vizinhos e amigos. O garoto Esteban passava boa parte de sua tarde levando aquelas latas pesadas para seu avô, um velho magro, enrugado e queimado de sol. Toda tarde o velho recebia o garoto Esteban com um sorriso no rosto e quase sempre dizia: - Hoje o Catuta faz a festa ! Catuta era um leitãozinho fruto de um consórcio entre os vizinhos daquela rua na periferia de Havana. O leitão era criado e alimentado com os restos de comida de toda a comunidade, ele ficava em um pequeno cômodo de alvenaria entre os quintais dos vizinhos, escondido da vigília dos comitês que a essa altura da história já faziam vista grossa para a atividade ilegal de criar um porco em casa. Naquele dia o velho não esperava o garoto Esteban sentado no banco em frente a sua casa como de costume. O velho estava na casa de um vizinho, junto com mais um grupo de pessoas que ouviam atentas o noticiário do rádio. O garoto Esteban percebeu que a voz impostada do locutor que saia do velho rádio falava de assuntos importantes, falava de “ El Comandante” de uma forma como nunca ouvira antes. Ao final da transmissão o velho que era o mais velho dentre os que estavam ali disse em voz alta: - Vamos cortar o porco ! O garoto Esteban ficou muito feliz diante da notícia. Ele adorava leitão assado, toucinho frito e também o Ajiaco, uma sopa grossa e saborosa feita com pedaços de porco. Naquela noite toda a vizinhança se reuniu na casa do velho para preparar o leitão, naquela noite tomaram Rum, comeram e falaram bastante. Naquela noite o garoto Esteban não entendeu se as pessoas estavam tristes ou alegres, ele apenas sentia que não era uma noite como as outras. Naquela noite o garoto Esteban comeu toucinho frito, porco assado e Ajiaco.

Thursday, August 03, 2006


Cheddar: 460. Suco de laranja: 200.Coca light só 3. Uma tortinha de maça, pequenininha, 220 calorias. Assim não da para viver aqui. No Brasil não, você ainda consegue manter a dignidade. Lá você come um bolo, um bolo de cenoura por exemplo, mas tem cobertura só em cima do bolo, o resto é cenoura, faz bem pra pele é saudável. Aqui não, aqui se eles descobrem que o barato do bolo de cenoura é a cobertura de chocolate fazem um bolo com cobertura de todos os lados, e ainda colocam recheio de chocolate, e se você pedir a promoção tal são capazes de colocar calda quente pra acompanhar. Assim não dá amor, não da para ser feliz amor, não da pra ser feliz com essa barriga amor. Eu fico revoltada, ninguém resiste. Agora tem essa tal de gordura trans, gordura trans, gordura trans. É só nisso que falam, nessa tal de gordura trans. E sabe o que eu descobri ? Que essa barriguinha minha é culpa da minha mãe. É, é isso! Eu li em uma revista. Na década de 80 foi à festa da gordura trans, era tudo liberado, não tinha nenhum cientista pesquisando o assunto, nem as revistas sabiam dessa gordura. E minha mãe, minha mãe me enchia de Biscoitos Divertidos, era um pacote todo dia. Sabe aquele que vinha uns bichinhos desenhados? Pois é, ela até falava: “Come este que é mais saudável. Não tem recheio, você pode comer a vontade. Chocolate só no final de semana, tá bom ?” Foi isso, foi aquele biscoito, eu tenho certeza, essa pança minha não é de hoje, não é mesmo, foi culpa da minha mãe. E esse inverno que não acaba, esse frio da muita fome. Lá no trabalho é assim: Filminho do Nemo pra cá, pipoca de microondas pra lá. Filminho dos monstros pra lá, m&m’s pra cá. E a dispensa amor, a dispensa lotada de coisa gostosa. A meninada fica louca. Eu é que controlo, se não a gente come tudo. - Take it easy, meu filho! Alguém tem que dar um bom exemplo. Olha aqui amor, a capa da revista que minha mãe mandou. Olha a Angélica amor. MAGÉRRIMA. Olha amor, e acabou de ter filho. Foi lipoescultura, aposto. Magérrima, magérrima. Também não faz nada da vida, vai lá e faz uma lipo e pronto. Assim a vida fica fácil. Comeu demais no natal, em janeiro uma “liposinha” e pronto. Você só fica rindo, não é amor. É isso, quando eu voltar para o Brasil a primeira coisa que vou fazer é uma lipo.
Você acha que eu estou gorda ? Amor.